A prisão do presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União Brasil), nesta quarta-feira, na Operação Unha e Carne da Polícia Federal, revelou mais do que o vazamento da ação Zargum, que prendeu ex-deputado TH Jóias em setembro deste ano.
A investigação trouxe à tona uma relação inusitada em que a carne assume protagonismo. Ela não aparece somente no nome da operação.
Surge também como imagem no relatório de investigação com um freezer lotado de picanhas. A carne também cruza o caminho do deputado estadual Rodrigo Bacellar em outra investigação.
De acordo com mensagens recuperadas pela PF, na véspera da operação que prenderia TH, e já alertado pelo presidente da Alerj, o ex-parlamentar zerou o celular, comprou outro aparelho e iniciou uma corrida para “limpar” a casa.
Num dos vídeos enviados ao novo número, ele pergunta a Bacellar se poderia deixar alguns pertences em sua residência — entre eles, um freezer cheio de picanhas. A resposta veio direta: “Deixa isso, tá doido? Larga isso aí, seu doido”.
Quase R$ 100 o quilo
Ao menos 20 peças de picanha da marca Maturatta estavam no freezer. Segundo levantamento do GLOBO, o corte custa, em média, R$ 99 o quilo em uma grande rede de supermercados do Rio. Considerando que cada peça pesa cerca de 1,5 kg, o estoque armazenado por TH equivalia a aproximadamente R$ 3 mil em carne.
A orientação fazia parte de um conjunto de mensagens que, segundo a investigação, continham instruções de fuga de Bacellar para TH, que seria preso no dia seguinte no âmbito da Operação Zargun. A PF afirma que o vazamento, ainda não totalmente esclarecido, obstruiu o andamento da ofensiva anterior. A prisão de Bacellar foi decretada pelo ministro Alexandre de Moraes após a análise de material apreendido em setembro.
Frigorífico sob suspeita
Nos bastidores do Ministério Público do Rio, Bacellar já enfrentava suspeitas ligadas justamente ao setor de carnes. Em agosto de 2025, O GLOBO revelou que um frigorífico instalado em Campos dos Goytacazes, cidade-base do deputado, entrou na mira de uma investigação por possível improbidade administrativa.
A Promotoria apura se houve irregularidades na concessão de licença ambiental e no empréstimo concedido pela AgeRio ao empreendimento, oficialmente registrado em nome do advogado Jansens Calil Siqueira — amigo e parceiro de negócios de Bacellar, que também dividiu com ele a compra de uma casa em Teresópolis.
Com capacidade para abater 250 cabeças de gado por dia, o frigorífico teria recebido financiamento público e é alvo de suspeitas sobre quem o controlava de fato. O Ministério Público investiga se Bacellar seria sócio oculto. O caso se soma às apurações sobre evolução patrimonial incompatível com sua renda, reformas pagas com mão de obra da Alerj e uso de imóveis por valores abaixo do mercado.
Na época, procurado, Bacellar disse, em nota, que “já foram prestados esclarecimentos que demonstraram não haver qualquer tipo de ilegalidade nos pontos abordados. E, diante de novos questionamentos, irá novamente detalhar, de forma transparente, que tudo foi feito devidamente dentro da legalidade”.
Já o Inea informou que a licença concedida à JGPS, em 2022, “foi emitida em conformidade com os procedimentos técnicos previstos e com a legislação ambiental vigente”. Acrescentou que “a análise considerou toda a documentação apresentada à época, bem como as condicionantes estabelecidas, sendo a licença concedida dentro do prazo regular de tramitação”. (Com O Globo)
