A Polícia Civil do Rio deflagrou uma operação contra a estrutura criminosa do TCP (Terceiro Comando Puro), que atua na Baixada Fluminense. Agentes estão nas ruas para cumprir oito mandados de prisão e 36 de busca e apreensão.
Cinco pessoas já foram presas, incluindo o vereador e a mulher do traficante que é braço direito do chefe do TCP na região.
De acordo com as investigações, a parte logística e financeira da facção se sustenta por vínculos diretos com agentes políticos da região, que integravam uma “rede de favores” e ofereciam suporte logístico e operacional em troca de benefícios financeiros e eleitorais.
Um dos alvos é o vereador Ernane Aleixo (PL), de São João de Meriti. Segundo a polícia, áudios e mensagens mostraram que ele ofereceu material e suporte para construções de barricadas, além de ter negociado vagas de nomeação em troca de apoio político.
A operação desta terça-feira, chamada de “Muro de Favores”, foi deflagrada para desarticular uma rede de tráfico, extorsão, homicídios e corrupção política na Baixada Fluminense. A ação é da DCOC-LD (Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro), integrada à estratégia da Operação Barricada Zero.
Em prints aos quais O GLOBO teve acesso, o vereador negocia o envio de maquinário — aparentemente pertencente à prefeitura — para “rasgar” as ruas onde seriam instaladas barricadas. As mensagens são trocadas com Marlon Henrique da Silva, o “Pagodeiro”, braço direito do traficante Geonário Fernandes Pereira Moreno, o “Genaro”, chefe do TCP na região. Nos diálogos, o vereador afirma que pode emprestar um “martelete” posteriormente e chega a oferecer vagas de emprego em um hospital para pessoas que o Pagodeiro quisesse “ajudar” na comunidade.
A investigação descobriu uma complexa estrutura criminosa ligada à facção TCP (Terceiro Comando Puro), atuante na Baixada Fluminense, principalmente nas comunidades Trio de Ouro (São João de Meriti), Guacha e Santa Tereza (Belford Roxo).
De acordo com a polícia, o grupo mescla tráfico de drogas, homicídios, extorsão qualificada de proprietários de estabelecimentos e lavagem de dinheiro, utilizando armas de fogo de uso restrito.
O núcleo investigado era gerenciado por Marlon Henrique da Silva, vulgo “Pagodeiro”, braço-direito do traficante Geonário Fernandes Pereira Moreno, vulgo “Genaro”, líder do TCP na região. Segundo a polícia, elementos da investigação mostram que “Pagodeiro” confessou ter matado três vítimas, incluindo uma mulher, durante confronto com facção rival em novembro de 2023.
O delegado Vinicius Miranda, da DCOC-LD, detalhou como atuava o grupo ligado ao vereador investigado por negociar maquinário público com traficantes para a construção de barricadas. Segundo ele, a investigação identificou três núcleos de atuação: o do tráfico na área, o de lavagem de dinheiro e um terceiro, que chamou a atenção dos investigadores por envolver diretamente a estrutura política local.
— Desde o agente público oferecendo ao traficante cargos em hospital público, desde que ele o apoie… ‘eu cedo cargos para você, desde que você, que tem o poder da força na comunidade, fale bem de mim para que as pessoas votem em mim’. O que assusta ainda mais é a possibilidade de que bens públicos, ou seja, aquele bem adquirido com o dinheiro do povo, sejam utilizados para ferir o povo. […] Ele é utilizado para prejudicar o povo na construção de barricadas — disse o delegado.
Questionado sobre a possibilidade de o vereador repassar informações sobre operações policiais, Miranda disse que não há elementos que sustentem essa suspeita. Ele citou exemplos concretos do material colhido pela Polícia Civil.
— Há uma conversa clara em que o cliente pede uma retroescavadeira para rasgar a rua. O agente público afirma que não pode ceder a escavadeira, mas que pode ceder martelete para que ocorra — disse.
Em outra mensagem, segundo o delegado, o agente público chega a orientar onde a barricada deveria ser instalada:
— O gente público solicita que a barricada seja um pouquinho mais para trás, comprovando essa relação promíscua de intimidade. Essas coisas aconteceram e essas solicitações foram atendidas.
O delegado ainda citou um áudio atribuído ao Pagodeiro, no qual o criminoso relata a morte de dois rivais e de uma mulher inocente, em novembro de 2023.
— Fora esses três homicídios, temos identificados casos de extorsão a comerciantes locais praticados pelo Pagodeiro, pelo irmão dele, preso hoje, e por outras pessoas da facção. Eles vão expandindo essas barricadas até onde conseguem. Eles fazem qualuqer coisa para obter lucro: corrupção, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro.
A polícia também prendeu Luciana Adelia Theofilo, que seria a mulher de Marlon Henrique da Silva, vulgo “Pagodeiro”. (Com O Globo)
