Familiares, amigos e fãs se despediram de Léo Batista na tarde desta terça-feira, quando o corpo de um dos maiores nomes da história do jornalismo brasileiro foi sepultado em Cordeirópolis, cidade natal dele, no interior de São Paulo. A cerimônia começou por volta das 15h no Cemitério Municipal de Cordeirópolis
"Seo" Léo morreu no último domingo, aos 92 anos, após ficar internado em um hospital do Rio de Janeiro com um tumor no pâncreas. A Prefeitura de Cordeirópolis decretou luto oficial de três dias.
O corpo do jornalista já tinha sido velado em uma cerimônia aberta ao público na sede do Botafogo, em General Severiano, na Zona Sul do Rio, na tarde de segunda-feira.
Início no interior
Léo Batista atuou em Piracicaba nos primeiros anos da trajetória profissional antes de seguir para o Rio de Janeiro. Por uma rádio da cidade, onde cobria jogos do XV de Piracicaba, o locutor foi chamado para narrar a final da Copa de 1950, em que o Brasil perdeu para o Uruguai.
— Toda vez que vinha a Cordeirópolis, se ele não me encontrasse em minha casa, deixava um bilhete carinhoso, afável e amigo”, contou com carinho. Ele tinha um gosto enorme pela profissão. Ele era muito admirado. Mas, para nós aqui, Cordeiropolenses, não se trata do Léo Batista. Para nós, é ‘Batistin’, que é o apelido que nós tínhamos quando jogávamos bola — disse Cyriaco Hespanhol, de 89 anos, amigo de infância.
João Baptista Belinaso Neto, como era o nome de batismo de Léo Batista, nasceu em 22 de julho de 1932. Ele iniciou a carreira na década de 40 após ser aprovado em um concurso para locutor do serviço de alto-falante da cidade.
Ainda adolescente, a voz marcante deu asas para a imaginação. O sobrinho do locutor, José Vitor Luke, lembra de um costume curioso, com a simulação de um microfone, que já era um prenúncio da trajetória de sucesso do tio no jornalismo esportivo no futuro.
— Ele ia fazer a entrega de pão e, na volta, quando encontrava o pessoal jogando bola, pegava um cabo de vassoura e colocava uma latinha de massa de tomate e ficava narrando o jogo na margem do campo — lembra o familiar.
Léo Batista foi o primeiro apresentador da história do Globo Esporte — Foto: Manoella Mello/Globo
Dos altos faltantes da praça central de Cordeirópolis, Léo Batista foi convidado para trabalhar em uma rádio em Birigui. Ele se destacou e conseguiu vaga na Rádio Difusora em Piracicaba.
— O Leo Batista era conhecidíssimo em Piracicaba. Todo mundo falava dele e o nome na cidade era Belinaso Neto. A Rádio Difusora tinha uma audiência grande e era a única em Piracicaba. Transmitindo o jogo do XV, com uma voz marcante, e aquele jeitão dele, foi conquistando o público — lembra o locutor Ulysses Michin.
1950, a primeira Copa do Mundo
Em 16 de julho de 1950, Léo Batista precisava transmitir o final da Copa do Mundo, em que o Brasil perdeu para o Uruguai. Na época dos locutores chegava dos estádios para as emissoras por meio de linhas de telefone fixo. Um problema na distribuição dos fios deixou o locutor sem poder narrar a partida.
Nos arquivos revisitados pela equipe da EPTV, afiliada da Globo, uma gravação registra Léo Batista relembrar a oportunidade de narrar o jogo da Copa de 50.
— Vim transmitir o jogo pela Rádio Difusora de Piracicaba. Enrolaram lá na hora de distribuir os fios. Eu assisti ao jogo e não consegui transmitir porque não conseguia achar a minha linha — contou Léo Batista.
Em 1955, trocou o rádio pela televisão quando foi contratado pela TV Rio. Em 1963, no Maracanã, ajudou uma equipe de rádio com quem tinha trabalhado em Piracicaba.
— Nós estávamos colocados atrás das cabines principais do Maracanã. Com a chuva, molhou todo o meu equipamento. Então, fui procurar o senhor Léo Batista. Ele me ajudou. Pediu para um técnico instalar o meu equipamento para poder narrar o jogo. Nossa, ele atendeu com uma grande educação, alegre e perguntando como estava Piracicaba e o XV — relembrou Ulysses.
Voz marcante
Dono de uma "voz marcante", como ficou conhecido, ele estava internado desde 6 de janeiro no Hospital Rios D'Or, na Freguesia, Zona Oeste do Rio. Ele foi diagnosticado com um tumor no pâncreas.
Em mais de 70 anos de carreira, Léo Batista deu voz a notícias como a morte de Getúlio Vargas e participou de quase todos os telejornais da TV Globo, onde trabalhou por 55 anos – até pouco antes de ser internado.
Foi o primeiro apresentador da história do Globo Esporte, em 1978. O programa de estreia tinha como destaque a conquista do título brasileiro do Guarani.