Com a falta de estrutura e fronteiras precárias do país, funcionários da Receita Federal, policiais federais e rodoviários temem a entrada de mais produtos contrabandeados, como cigarros, bebidas e eletroeletrônicos, além de armas e drogas durante o período da Copa do Mundo.
No ano passado, a Receita Federal apreendeu R$ 1,68 bilhão em produtos contrabandeados nas fronteiras, portos e aeroportos brasileiros.
As rotas de maior risco estão na fronteira com Bolívia, Paraguai, Colômbia e Venezuela, segundo entidades dos servidores do Fisco e PF.
"Com ingresso de mais pessoas, carros, ônibus e fiscalização insuficiente, os riscos aumentam durante um evento da proporção da Copa", afirma Moisés Hoyos, diretor de assuntos aduaneiros do Sindireceita (sindicato de analistas tributários).
Somente para assistir a um jogo em Porto Alegre pelas oitavas de final da Copa Libertadores, entre Grêmio e San Lorenzo, ao menos 18 ônibus de torcedores argentinos ingressaram no país.
Do Uruguai, são esperados durante a Copa 20 mil torcedores, sendo que um quarto deles deve chegar por via terrestre.
Na Argentina, cerca de 60 mil pessoas têm ingressos para os jogos -a maior parte deve vir ao país de carro e ônibus, segundo o consulado.
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Do Chile, há notícia que uma caravana de 800 veículos com mais de 3.000 torcedores rumo ao Brasil.
E 54 mil ingressos foram vendidos aos colombianos.
Como o país se preparou para receber os turistas que chegaram e chegarão ao país? Não se preparou, é a resposta.
Houve deslocamento para parte dos aeroportos, em número ainda insuficiente, mas nada para as fronteiras, diz o analista Sérgio de Castro, diretor do Sindireceita, em Porto Alegre. O reflexo de parte disso, diz, pode ser visto nas filas de migração.
Representantes dos policiais rodoviários federais dizem que não há reforço de pessoal, mas, sim, o deslocamento de servidores que atuavam em vias rodoviárias mais próximas de fronteiras para centros urbanos de cidades-sede da Copa.
"Alguns pontos, como na região Sul, estão desguarnecidos em até 30%", diz Marcos de Jesus Viana, do sindicato de PRF de São Paulo.
São 756 os funcionários que atuam hoje para fiscalizar, controlar importações e exportações, além de combater o comércio irregular, o tráfico (drogas, armas e munições) em 34 postos, em uma faixa de 16,8 mil km de fronteiras, de acordo com o Sindireceita. O número representa 73% do total necessário, segundo o sindicato.
Há quatro anos, trabalhavam nos 31 postos fiscais de fronteira 596 funcionários. No mesmo período, houve acréscimo de 26% no volume de comércio exterior brasileiro, segundo o próprio Fisco.
OUTRO LADO
A Receita Federal afirma que diversas ações foram planejadas em parceria com outras entidades em aeroportos do país. O incremento de pessoal ocorreu em portos e pontos de fronteira terrestres, mas não de modo linear. Isso ocorreu em função de jogos, programação de entrada de delegações e torcedores.
A Receita afirma ter feito cursos especiais, teóricos e práticos, para as equipes de reforço que trabalharão no controle aduaneiro em diversos pontos do país.
Em relação às fronteiras, diz ter dado "especial atenção às atividades de vigilância e repressão na região de fronteira do Sul e rodovias internas e às vias de ligação com as demais regiões do país", porque a área é a mais movimentada do Brasil -em viajantes, volume de cargas e por apresentar "grande propensão à atividades de contrabando e descaminho".
Segundo a Polícia Rodoviária Federal, há um plano para atuar nas 12 cidades-sede da Copa, mas "sem prejuízo de atividades desenvolvidas na área de fronteira".
São 10 mil policiais rodoviários federais envolvidos na operação, sendo 30% deles e 1.500 carros para garantir a segurança das cidades-sede.
A PRF também afirma que 30 cães farejadores devem auxiliar na busca por armas e drogas durante fiscalizações "que envolvem aglomerações de pessoas, como nas fiscalizações de ônibus e em estabelecimentos às margens da rodovia onde houver transmissão de jogos da Copa".
Procurada, a Polícia Federal não forneceu informações sobre o assunto.