O 1º site político de Mato Grosso do Sul   |   06 de Maio de 2024
Publicidade

Com maioria no Parlamento português, direita descarta pagar por escravidão

Comemorações do 25 de Abril provam que será quase impossível aprovar alguma medida de reparação pelos crimes cometidos 

26/04/2024 - 08h20

Lisboa (Portugal)

Com Portugal Giro/O Globo 

Líder da ultradireita, André Ventura ataca o presidente Marcelo Rebelo de Sousa no Parlamento (Foto: Filipe Amorim/AFP)

As comemorações oficiais do 25 de Abril deram um prova do quanto será difícil Portugal pagar os custos dos crimes da escravidão às ex-colônias, como pediu informalmente o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.


Os três representantes dos partidos de direita e extrema-direita, que juntos detêm a maioria de 142 entre 230 deputados no Parlamento, usaram seus discursos para atacar o presidente e enterrar uma possível votação de proposta de reparação na Assembleia.


O descarte da responsabilização pelo tráfico transatlântico de seis milhões de escravos para o Brasil e crimes cometidos durante a era colonial é consenso entre a direita tradicional e extrema-direita.


O ataque mais direto partiu do deputado André Ventura, presidente do partido de ultradireita Chega, que cobra uma retratação do presidente.


— O senhor presidente traiu os portugueses. O senhor foi eleito pelos portugueses. Não foi eleito pelos guineenses, pelos brasileiros. Pagar o quê? Pagar a quem? Eu tenho orgulho da nossa história, eu amo este país — declarou Ventura.


Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, foi pelo mesmo caminho dos radicais.


— Senhor presidente, História não é dívida. E História não obriga a penitência. Quem declara ser nossa obrigação indenizar terceiros pelo nosso passado, atenta contra os interesses do país, reduz-se à função de porta-voz de sectarismos importados e afasta-se do compromisso de representar a esmagadora maioria dos portugueses — disse Rocha.


Nuno Melo, do CDS – Partido Popular, que integra o governo e fez parte da coligação de centro-direita Aliança Democrática, que elegeu em março o primeiro-ministro Luís Montenegro, considerou o tema controverso.


— No CDS não sentimos necessidade de revisitar heranças coloniais, não queremos controvérsias históricas, nem deveres de reparação que parecem importados de outros contextos. A História é a História. E o nosso dever é o futuro.


O presidente da República apenas ouviu os discursos contra a ideia de reparação e não rebateu quando chegou a sua vez de falar no Parlamento. Não abordou o tema em todo o seu tempo ao microfone.


Mais tarde, em um evento com chefes de Estado de países africanos, ex-colônias de Portugal, que foram convidados para o 25 de Abril, voltou timidamente ao assunto.


— Do passado colonial guardamos todas as memórias e as lições que guiarão no futuro — afirmou Sousa.

No mesmo evento, o presidente de Angola, João Lourenço, lembrou da luta das ex-colônias contra a escravidão e saques.


— Enquanto o povo português lutava contra o fascismo e a ditadura salazarista desde 1932, os povos africanos colonizados por Portugal lutavam desde o século XV contra a colonização portuguesa e suas consequências, como a escravidão e a pilhagem das nossas riquezas.


Montenegro, que é do Partido Social Democrata (PSD), não se pronunciou.


Na última terça-feira, em jantar com jornalistas estrangeiros em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa declarou:


— Temos que pagar os custos (pela escravidão). Há ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não foram devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isso.

Leia Também
Comente esta notícia
0 comentários
Mais em Política
Colunistas
Ampla Visão
Copyright © 2004 - 2015
Todos os direitos reservados
Conjuntura Online