O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chega ao fim do ano sob o peso de uma sucessão de crises que vão além do discurso político e se materializam em números, escândalos administrativos e forte desgaste institucional.
O episódio mais emblemático é o roubo de R$ 6,3 bilhões nas contas de aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), revelado por auditorias e investigações, que levou à instalação de uma CPMI no Congresso Nacional e expôs fragilidades graves na gestão petista e nos mecanismos de controle do sistema previdenciário.
O caso do INSS se tornou símbolo de um governo que prometeu reconstrução, mas passou a conviver com denúncias de desvios bilionários justamente em uma das áreas mais sensíveis do Estado.
A CPMI ampliou o desgaste político do Planalto, reforçando críticas sobre negligência administrativa, falhas de fiscalização e tolerância com irregularidades que atingiram diretamente milhões de beneficiários.
Embora o governo sustente publicamente que não tem qualquer relação com o escândalo do INSS, a postura adotada nos bastidores foi outra. Desde o anúncio da CPMI, o Planalto se apressou em articular politicamente para controlar os trabalhos da comissão e blindar José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão de Lula.
Frei Chico, que ocupa o cargo de vice-presidente do Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos), passou a ser citado no debate público, o que levou o governo a intensificar a atuação dentro da CPMI para evitar que o caso avançasse sobre aliados e familiares do presidente, reforçando a percepção de interferência política em uma investigação que trata de bilhões de reais desviados de aposentados e pensionistas.
Déficit bilionário
Paralelamente a esse escândalo, o cenário fiscal se deteriorou de forma acelerada. O governo fecha o ano com déficit primário estimado acima de R$ 70 bilhões, muito distante da meta oficial de equilíbrio. Quando se considera o déficit nominal, que inclui os juros da dívida pública, o rombo ultrapassa R$ 1 trilhão em 12 meses, patamar equivalente a mais de 8% do PIB, pressionando a dívida, elevando a desconfiança do mercado e comprometendo o futuro das contas públicas.
Mesmo diante desse quadro, os gastos do governo seguiram em alta. Programas sociais foram ampliados sem a apresentação de fontes estruturais de financiamento. Iniciativas como o Pé-de-Meia, vendidas como vitrine social, passaram a ser alvo de questionamentos sobre custo, execução e impacto real, alimentando a percepção de que o governo priorizou anúncios e narrativa política em detrimento da responsabilidade fiscal.
Estatais falidas
A crise também atingiu instituições controladas pelo Estado. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, uma das maiores estatais do país, enfrentou em 2025 déficits sucessivos que a colocaram à beira da quebra e obrigaram o governo a buscar um empréstimo bilionário de R$ 12 bilhões com garantia da União para reforçar o caixa e viabilizar um plano de reestruturação financeira que se estende até 2040.
O Ministério das Comunicações publicou no sábado (27) em edição extra do Diário Oficial da União o extrato do empréstimo para os Correios. O valor foi aprovado pelo Tesouro Nacional no dia 18. O dinheiro será usado para a reestruturação econômico-financeira da estatal, segundo reportagem da Agência Brasil.
Emendas parlamentares
Outro ponto de forte desgaste foi a relação com o Congresso Nacional. Para garantir governabilidade, o Executivo liberou dezenas de bilhões de reais em emendas parlamentares, em valores que bateram recordes históricos. Somente as emendas impositivas e de relator somaram cifras superiores a R$ 50 bilhões, reforçando críticas de que o governo trocou agenda e controle do Orçamento por apoio político, aprofundando a dependência do Centrão.
Os gastos com viagens oficiais também entraram no radar das críticas. As despesas somaram centenas de milhões de reais, contrastando com o discurso de austeridade e agravando o desgaste em um momento de déficit elevado, aumento da carga tributária e cobrança crescente sobre a sociedade.
Ao final do ano, o saldo é claro: o governo do PT encerra o período sustentado muito mais por narrativas políticas do que por resultados concretos. O discurso de reconstrução fiscal, estabilidade institucional e proteção social foi atropelado por rombos bilionários, aumento e criação de impostos, escândalos administrativos, gastos crescentes e uma governabilidade cara, que cobra seu preço no Orçamento e na confiança da sociedade.
Eleições 2026
Esse conjunto de crises não se limita ao encerramento do ano fiscal e administrativo, mas projeta efeitos diretos sobre o cenário político futuro. O desgaste acumulado, somado à percepção de descontrole das contas públicas e à sucessão de escândalos, tende a pesar no debate eleitoral e pode se tornar um dos principais obstáculos para a campanha de reeleição de Lula em 2026. (Com agências nacionais)
