Em apenas cinco meses, Dourados superou o número total de captações de órgãos feitas em todo o ano passado. Foram cinco doações efetivadas até agora em 2025, contra quatro registradas em 2024.
O avanço é animador, mas esbarra em um velho obstáculo: o silêncio dentro de casa.
Segundo Ludelça Dorneles, coordenadora da OPO (Organização de Procura de Órgãos) em Dourados, o principal motivo das recusas ainda é a falta de diálogo entre familiares.
“A família não sabe se o parente gostaria de ser doador, e por medo ou insegurança, acaba dizendo não”, afirma.
A cidade tem estrutura para fazer captação em todos os hospitais com UTI, mas o cenário já foi mais complicado. Durante a pandemia, leitos foram tomados pela Covid-19, atrasando os processos. Outro gargalo recente foi o fechamento do aeroporto local para reformas — sem voos, ficou impossível transportar órgãos como coração e pulmão, que precisam chegar ao receptor em até quatro horas.
Mesmo com o trabalho da OPO em hospitais, universidades e empresas, a resistência persiste. Além da conscientização, a logística também pesa. Hoje, Dourados não realiza transplantes — os órgãos captados seguem para Campo Grande, onde equipes especializadas fazem os procedimentos na Santa Casa ou no Hospital do Pênfigo.
A equipe da OPO é quem entra em cena assim que há suspeita de morte encefálica. Conversa com a família, explica os direitos, esclarece dúvidas — sempre com respeito ao luto. Mas, como reforça Ludelça, esse contato poderia ser menos difícil se a decisão de doar fosse um assunto natural em casa. “A gente precisa falar mais sobre isso. Quanto antes essa conversa acontece, maior a chance de salvar vidas”, conclui.