Um relatório da Polícia Federal encaminhado ao STF (Supremo Tribunal Federal) expõe novos detalhes sobre o suposto esquema de venda de sentenças no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul).
A investigação aponta que dois desembargadores teriam usado o cargo para beneficiar os próprios filhos, ambos advogados, em ações milionárias.
O inquérito, obtido pelo g1 e pela TV Globo, revela que mensagens encontradas nos celulares dos magistrados reforçam a suspeita de favorecimento.
Em um dos trechos, o desembargador Vladimir Abreu da Silva teria atuado diretamente para abrir caminho a interesses do filho Marcus Vinicius Machado Abreu da Silva em uma ação de R$ 16,9 milhões. Segundo a PF, ele chegou a agendar uma audiência entre Marcus e outros dois desembargadores envolvidos no caso.
Além disso, os investigadores apontam relação próxima entre Vladimir e Rodrigo Pimentel, filho do também desembargador investigado Sideni Soncini Pimentel. Rodrigo criou um grupo de pescaria em aplicativo de mensagens, com envolvimento dos magistrados. Para a PF, essa associação revela uma "sociedade com patrimônio comum", citando, inclusive, cobrança de mensalidades e a posse de um rancho pesqueiro.
Essa não é a primeira vez que a Polícia Federal identifica possível interferência familiar em decisões judiciais. Em 2023, quebras de sigilo revelaram que filhos de magistrados tinham acesso privilegiado aos gabinetes e conseguiam decisões com mais facilidade. “Alguns escritórios recebiam tratamento especial dentro do tribunal, o que nos levou a identificar decisões com fortes indícios de negociação”, afirmou o superintendente da PF, Carlos Henrique Cotta D'Ângelo, à época.
Outro indício revelado é que os escritórios de advocacia das famílias envolvidas dividem o mesmo endereço. O da família Abreu, o Machado Abreu Advogados Associados, opera no mesmo local do escritório de Rodrigo Pimentel.
A PF identificou ainda diversos processos em que os filhos dos desembargadores atuam como advogados em ações julgadas justamente pelos pais dos colegas – em uma espécie de troca de favores.
Até o fechamento da reportagem, as defesas de Vladimir Abreu, Marcus Vinicius Abreu, Rodrigo Pimentel e Sideni Pimentel não haviam se manifestado.