Pesquisadores brasileiros da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) identificaram canabidiol (CBD) em uma planta nativa do Brasil, a Trema micrantha blume, um arbusto comum em várias regiões do país.
O canabidiol é um dos compostos ativos da cannabis e tem sido utilizado na medicina para o tratamento de várias condições graves, como: epilepsia, dor crônica, ansiedade e distúrbios neurodegenerativos.
A pesquisa foi motivada por estudos internacionais que detectaram canabinoides em uma planta semelhante, a Trema orientale blume, encontrada fora do Brasil. Os cientistas brasileiros então, queriam entender se o composto poderia ser encontrado aqui no Brasil.
Segundo o pesquisador Rodrigo Soares Moura Neto, o objetivo é aprofundar o conhecimento sobre a espécie brasileira, avaliando desde sua caracterização genética até os testes de toxicidade, além das propriedades antimicrobianas e antifúngicas.
— A flora brasileira é muito rica em substâncias bioativas, mas uma pequena fração delas é aproveitada para pesquisa. O desenvolvimento de tecnologias a partir de recursos naturais do país pode representar um avanço significativo para a saúde e para a economia — diz o pesquisador.
A equipe científica encontrou apenas o CBD na planta e não o THC (tetrahidrocanabinol), que está presente na planta da maconha, mas é o que causa os efeitos psicoativos.
Embora os resultados ainda não tenham sido publicados, Neto planeja avançar para a próxima fase do estudo, que inclui testar os métodos mais eficientes de extração do CBD da Trema e avaliar sua eficácia no tratamento de condições atualmente abordadas com cannabis medicinal.
O projeto recebeu uma bolsa de R$ 500 mil do governo brasileiro e deve se desenvolver ao longo de, no mínimo, cinco anos.
Pacientes em tratamento
No final do ano passado, o Brasil atingiu a marca de 672 mil pacientes que se tratam com cannabis medicinal — o número é 56% superior ao do ano passado. Os pacientes estão espalhados por aproximadamente 80% dos municípios. Os dados são do anuário produzido pela Kaya Mind.
Em novembro do ano passado, a Primeira Seção do STJ (Superior Tribunal de Justiça) autorizou, por unanimidade, a importação de sementes e o cultivo de cânhamo industrial para fins exclusivamente industriais e medicinais. A prática deve ser regulamentada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em até seis meses.
O cânhamo industrial é uma variedade com baixos níveis de THC, o principal composto psicoativo da planta, e que é inadequado para uso recreativo, mas pode ser usado para fins medicinais e industriais, como a CBD (produção de canabidiol).
Para a relatora no STJ, ministra Regina Helena, a permissão para o cultivo de “cânhamo industrial” para fins medicinais atende à diferenciação feita pela ciência e pela medicina entre o uso medicinal e recreativo. Ainda segundo a ministra, o alto custo de produção de medicamentos derivados de cannabis se deve, em parte, à necessidade da importação de insumos.
Segundo Maria Eugenia Riscala, CEO da empresa Kaya, que abriga a Kaya Mind, há mais de 2.180 produtos de cannabis medicinal, variedade que contempla diversas necessidades. "A expansão da cannabis medicinal é visível no Brasil, não apenas em números, mas na forma como a medicina integra essas opções de tratamento à rotina dos pacientes em todo o país", diz à Agência Brasil. (Com O Globo)