O colunista do FT (Financial Times) Edward Luce publicou nesta terça-feira (22/07) um artigo intitulado "Trump, Imperador do Brasil", no qual faz duras críticas à imposição de tarifas de 50% contra o Brasil pelo governo de Donald Trump.
Para Luce, que é colunista e editor do jornal britânico, um dos padrões da política comercial de Trump tem sido o que ele chama de "incontinência imperial".
"Para ele [Trump], tarifas são algo lindo. Elas lhe dão poder sobre o acesso do resto do mundo ao vasto mercado consumidor dos EUA", escreve o colunista.
Luce diz que Trump está atuando para "promover autocracias", o que deixa "democracias-irmãs [como o Brasil] compreensivelmente alarmadas".
O jornalista traz como exemplo a Turquia, que apesar de ser superavitária em relação aos EUA, foi atingida por uma tarifa de apenas 10%.
"Não é pecado aos olhos de Trump que Erdogan [presidente da Turquia] tenha recentemente prendido vários prefeitos da oposição, incluindo Ekrem ?mamo?lu, de Istambul, seu provável oponente presidencial. A inclinação de Erdogan para a autocracia pode até ter levado o presidente dos EUA a ter uma visão mais favorável da Turquia", escreveu o colunista.
"Isso ocorre apesar do fato de os EUA terem um déficit comercial com a Turquia, diferentemente de com o Brasil."
Para Luce, quando o governo Trump justifica as tarifas criticando as investigações e o processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, está "punindo o sistema legal de uma democracia-irmã por aplicar a lei".
De acordo com o colunista, os paralelos entre Trump e Bolsonaro são evidentes — "a diferença é que Bolsonaro está sendo responsabilizado" na Justiça, argumenta.
Além de Trump, Luce critica também a postura do secretário de Estado americano, Marco Rubio.
O texto lembra que Rubio anunciou a revogação do visto americano de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) que é relator da ação penal em curso contra Bolsonaro e de outras investigações.
"O mundo presta atenção ao que os Estados Unidos fazem, não ao que dizem. Mas se existe um farol liberal democrático hoje em dia na área de Rubio, ele vem de Brasília e Ottawa. Por enquanto, Washington está fora", escreveu o colunista.
Ao se referir à capital canadense, Edward Luce traz o país vizinho aos EUA como um dos exemplos em que a guerra tarifária americana acaba contribuindo para a popularidade dos mandatários — como a de Lula.
"Em queda nas pesquisas? Rumo ao esquecimento eleitoral? Mark Carney, do Canadá, Anthony Albanese, da Austrália, e agora Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, têm uma solução para você. Faça com que Donald Trump lance uma guerra comercial contra o seu país. Poucas coisas unem os eleitores em torno da bandeira mais rápido do que um ataque de uma superpotência às suas receitas", ironiza o colunista.
Edward Luce, que já chefiou escritórios do FT em Washington e no sul da Ásia, diz que embora Trump se orgulhe de sua própria imprevisibilidade, esse é um de seus padrões.
"(...) Mesmo nos termos mercantilistas de Trump, suas ações não fazem sentido. Os Estados Unidos têm um superávit comercial com o Brasil. O país de Lula deveria, portanto, ter sido isento das tarifas do 'dia da libertação' de Trump", argumentou o colunista.
Se o objetivo das tarifas contra o Brasil fosse não econômico, como ajudar um colega seu "homem forte"— no caso, Bolsonaro —, ainda faltaria lógica, argumenta Luce.
"Entre as principais vítimas de uma tarifa americana de 50% sobre o Brasil estariam os pecuaristas e os exportadores de café do país. Ambos os setores são redutos de Bolsonaro. Trump está, portanto, ajudando Lula, não Bolsonaro. Não é surpresa que a sorte de Lula tenha sido recuperada", escreveu o colunista.
Para ele, os conselheiros de Trump para políticas protecionistas é que deveriam estar se colocando mais de frente ao presidente americano.
"Se eles conseguirem ser ouvidos, poderão apontar que Trump está atrapalhando sua própria agenda. Na visão deles, as tarifas visam aumentar a capacidade interna dos EUA. Trump, por outro lado, usa essa ferramenta para tudo o que lhe agrada. E, olha, homens durões o agradam." (Por BBC News, BBC News Brasil)