A inflação de junho, que será divulgada pelo IBGE nesta quinta-feira, às 9 horas, deve representar um momento delicado para o presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo.
Ao que tudo indica, esta será a primeira vez que o IPCA vai descumprir a meta contínua, já que o modelo entrou em vigor em janeiro deste ano. Será também a segunda vez em seu mandato que Galípolo terá que escrever carta para justificar o índice fora da meta.
O modelo de meta contínua estabelece que, em vez de ser medido a cada ano-calendário, como funcionava até o fim do ano passado, o IPCA seja verificado continuamente. É considerado que a meta foi descumprida se a inflação acumulada em 12 meses ficar fora do intervalo de tolerância por seis meses seguidos.
O CMN (Conselho Monetário Nacional) já havia estabelecido meta de 3,0% para 2024, 2025 e 2026, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo, ou seja, piso de 1,5% e teto de 4,5%.
Como a nova sistemática começou a valer em janeiro de 2025, quando a inflação em 12 meses já chegava a 4,56%, o resultado de junho deve marcar o sexto mês consecutivo fora do limite.
Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, explica que mesmo que os resultados do IPCA de junho surpreendam as expectativas dos analistas, o número não deve chegar ao teto da meta tão cedo. Sua projeção para o IPCA acumulado em 12 meses é de 5,4% em junho — quase um ponto percentual a mais que o limite estabelecido.
Embora a Monte Bravo tenha revisado suas expectativas para inflação de 2025, saindo de 5,7% para 5,5%, Costa acredita que o índice só deve alcançar os 4,5% no final de 2026. Fatores que vêm atenuando o IPCA mensal, como a queda no preço dos alimentos, a desvalorização do dólar e a expectativa de queda nos preços das commodities em reais, podem trazer surpresas baixistas, mas não o suficiente para chegar ao teto da meta.
— A inflação tem uma tendência de se acomodar em 2026. O grau de acomodação vai depender de dois fatores principais. Primeiro, a desaceleração que vai ter na economia com o aperto de juros que já foi feito até agora. Quanto mais esse processo se consolida, mais a chance de a inflação ceder no ano que vem — explica o economista, acrescentando:
— E outro elemento importante é a coordenação das expectativas, que passa por uma política fiscal que mantenha as metas do arcabouço. Quanto mais o governo perseguir as metas e deixar crível que consegue cumpri-las, principalmente para 2026, mais essa ancoragem das expectativas vai acontecer. Isso ajuda também o processo de desinflação ao longo do tempo.
Até mesmo a Warren Investimentos, que tem expectativas um pouco mais otimistas, só prevê os 4,5% no acumulado em 12 meses para o fim de 2026. A projeção da corretora é de que o IPCA irá registrar 5,24% em junho, e fechar o ano de 2025 em 5,0%.
Pela regra atual, sempre que o índice passa do teto da meta, o presidente do BC precisa escrever uma carta para explicar os motivos e dizer quais medidas estão sendo tomadas. Até dezembro, a carta era escrita com o fechamento do ano, de forma que Galípolo já teve que redigir o documento no início de 2025, pelo descumprimento da meta em 2024. Dessa forma, será a segunda vez no ano que o presidente do Banco Central terá que redigir o documento.
A meta contínua foi estabelecida por meio de decreto publicado em junho de 2024. O novo modelo já havia sido divulgado em junho do ano anterior, mas precisava ser confirmado com um decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. (Com O Globo)