Enquanto o governo do presidente Lula (PT) exibia o colorido do Bumba meu Boi para impressionar representantes de mais de 140 países na abertura da COP30, na quinta-feira (6), o lado de fora do evento revelava um retrato bem diferente do discurso oficial.
Em vez de eficiência e organização, o que se via eram atrasos, improviso e pressa — marcas de uma gestão que tenta entregar resultados no limite do cronômetro.
Belém virou palco de um espetáculo duplo: de um lado, a performance cuidadosamente montada para as câmeras; do outro, trabalhadores correndo contra o tempo para montar estruturas ainda inacabadas, entre marteladas, cheiro de madeira recém-cortada e banheiros sem água.
Era a vitrine verde do Brasil escondendo o tapume da desordem.
Na área reservada a delegações e jornalistas, o contraste era evidente. Pontos de alimentação fechados, falhas na internet, cabos soltos e instalações provisórias compuseram o cenário de um evento que deveria simbolizar sustentabilidade e planejamento, mas acabou revelando a falta de coordenação e o improviso do governo federal.
O secretário da COP30, Valter Correia, admitiu que há intervenções em andamento na chamada Zona Azul, mas minimizou a situação, dizendo que são apenas “ajustes previstos”.
Na prática, trata-se de um eufemismo para obras atrasadas — mais um exemplo do costume nacional de varrer a poeira para baixo do tapete antes de receber visitas.
Enquanto as autoridades discursavam sobre futuro sustentável, os operários seguiam no presente imediato, tentando consertar o que o planejamento não previu. O contraste entre o palco iluminado e os bastidores desorganizados da COP30 escancara uma velha contradição brasileira: o país que promete o amanhã, mas tropeça no hoje.
O fundo “bilionário” que ainda espera cair na conta
Enquanto o governo celebrava compromissos e discursos grandiosos, o Tropical Forests Forever Fund (TFFF) — anunciado como o carro-chefe da diplomacia ambiental brasileira — ainda engatinha. Lançado com pompa como a grande aposta para financiar a preservação das florestas tropicais, o fundo soma pouco mais de US$ 5,5 bilhões em promessas, valor que não chega sequer à meta mínima de US$ 10 bilhões necessária para começar a operar de fato.
No mesmo tom de improviso que marcou a infraestrutura da cúpula, o TFFF virou símbolo de um Brasil que vende ambição verde enquanto tenta juntar o dinheiro para pagá-la. Faltam compromissos firmes, sobram discursos. E o eco da falta de credibilidade soou mais alto com a ausência dos Estados Unidos e da China, as duas maiores economias e principais emissores do mundo, que simplesmente ignoram o palco montado em Belém.
No fim, o fundo nasceu bilionário no nome, mas vazio no caixa — um retrato fiel de uma COP que parece mais preocupada com o espetáculo do que com os resultados. (Com R7)
