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Hoje o CV disputa o Brasil com o PCC, afirma delegado do Rio 

Em entrevista ao EXTRA para a série Conexões do Crime, que aborda a expansão do CV pelo país, subsecretário da Polícia Civil do Rio indica que há ameaça à soberania nacional

Conjuntura Online
22/10/25 às 17h05
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Conexões do crime: série do EXTRA aborda origem e consequências da expansão do Comando Vermelho pelo país (Foto: Design: Toni Azevedo)

O avanço do CV (Comando Vermelho) ultrapassou há muito as fronteiras do Rio de Janeiro. A facção hoje expande seus domínios e negócios por quase todo o país, a ponto de, segundo o delegado Carlos Antônio Luiz de Oliveira, subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da Polícia Civil do Rio, rivalizar diretamente com o PCC (Primeiro Comando da Capital) pela hegemonia do crime organizado no Brasil.

— Hoje, o Comando Vermelho disputa o Brasil com o PCC. Em pouco tempo, não estaremos mais discutindo apenas segurança pública, mas soberania nacional e quem manda no país — alerta o delegado, em entrevista à série Conexões do Crime, do EXTRA, que aborda a origem e as consequências da expansão do CV pelo país.

De acordo com levantamentos recentes da Polícia Civil, traficantes de 13 estados já se refugiam em áreas sob domínio do Comando Vermelho no Rio. O Pará é o principal deles, com 78 criminosos identificados em grandes complexos cariocas. Esses movimentos são reflexo de uma estratégia de expansão que transformou o Rio de Janeiro em um centro de operações e abrigo para chefes de facções espalhados pelo país.

Nos bastidores dessa rede, penitenciárias federais e advogados ligados ao crime cumprem papéis decisivos. Enquanto os presídios se tornaram pontos de encontro e comunicação entre lideranças de diferentes regiões, advogados criminosos — que usam a profissão para fazer trocas de recados entre traficantes, a chamada “sintonia” — atuam na troca de mensagens e ordens entre os chefes, sustentando a coordenação nacional da facção.

A combinação desses fatores permitiu ao Comando Vermelho criar uma espécie de franquia do crime, hoje presente em 25 estados e no Distrito Federal. O modelo fortaleceu a estrutura do grupo e deu estabilidade aos negócios, com líderes controlando territórios à distância, protegidos nas comunidades cariocas.

Essa expansão forçou também uma reação das polícias estaduais, que passaram a compartilhar informações e operações em rede. Grupos de WhatsApp reúnem delegados e chefes de investigação de todo o país, trocando dados sobre foragidos, mandados e conflitos entre facções.

No fim de setembro, por exemplo, uma operação conjunta entre as polícias Civil e Militar do Rio e as forças de segurança do Pará prendeu uma mulher apontada como elo entre os dois estados, integrante do tráfico nas comunidades da Gardênia Azul e Cidade de Deus, na Zona Sudoeste carioca — um retrato concreto das novas conexões do crime.

Na Rocinha, Zona Sul do Rio, o apoio nas últimas operações veio da Polícia Civil do Ceará. Em dezembro de 2024, agentes foram à comunidade para cumprir 34 mandados de prisão e nove de busca e apreensão contra traficantes cearenses e goianos escondidos por lá. À época, as autoridades afirmaram que os criminosos, muitos foragidos, usavam a comunidade como esconderijo e mantinham poder sobre seus estados num esquema de “home office”.

Em maio deste ano, a ação foi repetida e revelou um contexto ainda mais desafiador: cerca de 400 traficantes da comunidade foram flagrados, por drones operados pela Polícia Militar, em fuga pela mata da região. Todos estavam armados com fuzis e usavam roupas camufladas.

Um dos alvos foi José Mario Pires Magalhães, o ZM, o principal nome do Comando Vermelho no Ceará, segundo a polícia. Ao lado de comparsas, ele escapou das duas investidas e continua a morar na Rocinha, com aval do chefe do tráfico na favela, John Wallace da Silva Viana, o Johny Bravo. Natural de Canindé, cidade do sertão do Ceará com menos de 80 mil habitantes, ele vive há pelo menos dois anos numa casa luxosa com banheira de hidromassagem e vista para a Praia de São Conrado, na Zona Sul do Rio.

A ligação de ZM com o Comando Vermelho, como sugere um advogado que o defendeu, começou em 2012 na Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, onde ficou por pouco mais de um ano. À época, ele era réu pela morte de um diretor de carceragem em Canindé, mas acabou sendo absolvido devido à falta de provas. No presídio, ele foi acolhido por traficantes da facção, mas não chegou a se filiar a ela de início. Somente ao deixá-la e ser procurado por integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) que mudou de ideia: o grupo paulista exigiu territórios do Ceará em troca da irmandade, além de quantia em dinheiro. O CV seguiu num acordo mais amistoso, sem demandas.

Para o promotor de Justiça e coordenador do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) de Rondônia, Anderson Batista de Oliveira, a migração de chefes do CV no Rio, como ZM, aumenta a capacidade operacional da facção ao nível nacional:

— Hoje está muito comum falar de trabalho híbrido ou remoto, e o crime faz o mesmo. Eles entenderam que o chefe estratégico não precisa mais estar no estado de origem. Ela pode ficar geograficamente protegida no Rio e tomar as decisões por videochamadas. E isso é muito vantajoso para todos eles. O chefe do estado fica protegido no Rio, por estar em um local de difícil acesso da polícia, e a organização protege seus principais ativos, diminuindo a rotatividade e gerando estabilidade nos negócios, principalmente em estados que fazem fronteira.

A migração, dessa forma, inaugura um sistema de “ganha-ganha”: de um lado, os foragidos conquistam proteção, status e novos conhecimentos no Rio; e do outro, a facção amplia franquias Brasil afora, incluindo poderio sobre rotas de escoamento de armas e drogas.

Em nota, a Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais) e a PPF (Polícia Penal Federal) afirmam que todas as comunicações são monitoradas dentro das penitenciárias federais, e que "todas as tentativas de comunicação ilícita mencionadas na matéria foram identificadas e interceptadas pela própria Polícia Penal Federal, o que comprova a eficiência e a integridade dos mecanismos de segurança". A nota segue informando que "os conteúdos interceptados foram posteriormente encaminhados às autoridades competentes, subsidiando diversas operações policiais conduzidas por órgãos de segurança pública, como a Polícia Federal, motivo pelo qual há registros dessas informações em documentos oficiais".

A Senappen e a PF afirmam também que as interações entre presos nas penitenciárias federais são "acompanhadas em tempo real por policiais penais federais, que atuam com elevado padrão técnico e estrito cumprimento da Lei de Execução Penal", e que, a partir de 2019, houve um endurecimento ainda maior de seus protocolos de segurança e inteligência, em razão de tentativas de desestabilização do sistema, inclusive com o assassinato de servidores da Polícia Penal Federal por organizações criminosas. Leia a nota na íntegra aqui. (Com EXTRA)

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