Com presença marcante de venezuelanos e outros povos que cruzaram fronteiras em busca de recomeço, Dourados inicia, na segunda-feira (9), uma conversa importante: como acolher melhor quem escolheu a cidade para viver.
A partir das 8h, no auditório do Creas da Vila Santa Catarina, acontece a primeira reunião do Comitê Municipal para Refugiados, Migrantes e Apátridas.
Na pauta, temas práticos: definir quem vai comandar os trabalhos do grupo, aprovar o regimento interno e, principalmente, começar a traçar o plano de ação para tornar mais eficientes as políticas públicas voltadas a essa população cada vez mais presente nas ruas, nas escolas, nos postos de saúde e no mercado de trabalho local.
Criado por decreto municipal no mês passado, o comitê é coordenado pela Secretaria de Assistência Social. A ideia é mapear quantos migrantes vivem hoje em Dourados, entender suas necessidades e pensar estratégias conjuntas para garantir atendimento digno em áreas como saúde, moradia, educação, cultura, esporte e geração de renda.
Para a secretária de Assistência Social, Shirley Zarpelon, o grupo chega em boa hora. “É um avanço importante para fortalecer as ações voltadas aos migrantes e para que a cidade se credencie ao selo MigraCidades”, afirma. Ela lembra que, só entre 2019 e hoje, cerca de 5.400 venezuelanos chegaram à cidade por meio da Operação Acolhida — mas estima-se que o número real seja bem maior, devido à migração espontânea.
A ausência de dados precisos preocupa e reforça a urgência de um censo municipal específico. “Precisamos saber quantos são, onde estão e como estão vivendo essas pessoas”, pontua Shirley.
Desafio
O desafio de Dourados não é isolado. De acordo com o Observatório de Migrações Internacionais, o Brasil passou de 345 mil para 2,3 milhões de solicitações de residência entre 2010 e 2024, reunindo migrantes de ao menos 117 nacionalidades. São homens, mulheres, crianças, idosos e pessoas com deficiência, muitos fugindo de guerras, crises políticas ou desastres ambientais.
Com esse novo perfil, mais diverso e vulnerável, cresce a responsabilidade dos governos — em todas as esferas — de garantir não só acolhimento, mas inclusão de fato. E em Dourados, polo regional e uma das cidades que mais receberam migrantes no país, o desafio já está colocado na mesa.