Cleide Carvalho teve passagem curta pelo setor bancário. Sabia desde cedo que sua vocação era o jornalismo, a investigação, a busca pela novidade. A curiosidade pela informação era o seu combustível.
Formada pela Faculdade Cásper Líbero, de São Paulo, se aventurou pelo universo da economia, conversando com banqueiros, empresários, economistas para tentar entender por que o país cresce pouco, como enfrentar as desigualdades, quais são as riquezas inexploradas do Brasil. Mas trafegava por diferentes áreas do jornalismo com a mesma desenvoltura.
Trabalhou em veículos como a revista Exame, então da Editora Abril, mas foi no jornal O GLOBO em que mostrou seu talento para a profissão e onde sua carreira se consolidou.
Tinha um faro peculiar para encontrar pautas nacionais. Foi assim quando denunciou o tráfico humano de adolescentes do Pará para São Paulo e chegou a ser ameaçada pelos criminosos.
Tinha interesse especial pelos indígenas e em inúmeras viagens ao interior do país, relatou a luta desse povo pela sua terra e contra exploração ilegal de madeira e o garimpo.
Escalada para cobrir a Operação Lava Jato, dividiu seu tempo entre dezenas de viagens entre São Paulo e Curitiba, onde buscou novas fontes, escarafunchou bastidores da história, sempre à procura da notícia exclusiva e da informação que não chegava fácil.
Já na era digital, teve atuação importante na implantação do site do GLOBO, com foco na cidade de São Paulo. Coordenou e participou de coberturas históricas nesse período como o desabamento da estação Pinheiros da linha 2 do Metrô, da morte da menina Isabela Nardoni e do julgamento e condenação de seu pai e madrasta, do assassinato do cartunista Glauco.
Em tragédias como a queda do avião da TAM, não hesitava em virar a noite em busca da notícia sempre atualizada. Mas tinha também disposição e bom humor para passar a noite em claro fazendo a cobertura do Carnaval paulista. A visita do Papa Bento XVI ao Brasil, em 2007, rendeu inúmeras reportagens idealizadas por ela e executadas por sua equipe do online.
No lado pessoal, Cleide era generosa ao dividir suas fontes, debater as pautas à exaustão para buscar o lado inusitado de cada história, ensinar e explicar o caminho das pedras aos colegas de redação e a quem estava começando na profissão. Como chefe, era exigente, queria sempre o limite da apuração e geralmente tinha perguntas para as quais, muitas vezes, os repórteres não tinham a resposta. Ao longo de sua carreira, fez muitos amigos por onde passou, que sempre exaltaram seu amor e dedicação pelo jornalismo.
Cleide Carvalho foi diagnosticada com câncer há alguns anos. Enfrentou o tratamento pesado sem perder a vitalidade e o interesse pelo trabalho — e manteve seu bom humor. Continuou produzindo reportagens, buscando pautas inéditas e sendo fiel aos princípios do bom jornalismo. Aos 63 anos, ela faleceu nesta sexta-feira, dia 14, provocando uma tristeza imensa pela partida precoce. Deixa o marido Raul, o filho Matheus, seus três cachorros, além de uma legião de amigos e admiradores. (Com O Globo)