Cerca de 30 aparelhos de telefone celular, energia e conexão à internet. É essa a estrutura necessária em um estádio para que funcione o sistema de impedimento semiautomático que está sendo avaliado pela CBF para o Campeonato Brasileiro do ano que vem.
A confederação está negociando com a empresa britânica Genius, que fornece o serviço à Premier League, da Inglaterra, além das ligas da Bélgica e do México. Embora o acordo não esteja fechado, o sistema desponta como favorito neste momento.
Nesta semana, o chefe da Comissão Nacional de Arbitragem, Rodrigo Cintra, irá a Londres para acompanhar o funcionamento da estrutura e para novas reuniões com a empresa, com quem mantém contatos desde agosto.
A companhia instala cerca de 30 aparelhos iPhone 16 Pro, que devem ser atualizados para modelos 17 Pro, nos estádios. Os aparelhos gravam toda a partida em 4k, a 100 frames por segundo, permitindo que o sistema crie uma réplica digital do confronto.
– Não existe imagem borrada no toque na bola, você pode ver todos os movimentos. Isso faz com que não precise de um chip (instalado na bola) – explicou Harry Lennard, ex-bandeirinha que lidera o projeto da Genius, em entrevista ao ge, no mês passado.
Segundo Lennard, o programa monitora milhares de pontos no corpo de cada atleta em campo, além da bola. Ele define, através de inteligência artificial, o momento exato do passe e quem são o atacante e o defensor que interessam para a análise.
O sistema é capaz de determinar automaticamente qual é o ponto do corpo do atleta que está mais próximo da linha de fundo – se em um frame é o ombro e, no seguinte, se torna um dos pés, por exemplo.
– A cada fim de semana, na Premier League, há cerca de 250 impedimentos. O sistema, sozinho, tem 97,8% de acerto. É muito próximo de algo totalmente automático. Em um fim de semana recente, fomos usados em cinco decisões. Em apenas uma delas tivemos que mudar o ponto do toque na bola por dois frames – contou.
Tudo isso acontece, de acordo com Lennard, enquanto os atletas estão comemorando um gol.
– Um levantamento da Premier League mostrou que, quando um gol é marcado, os jogadores levam 66 segundo para comemorar e voltar ao círculo central. Às vezes vamos além disso, mas mais frequentemente as decisões levam cerca de um minuto para que o VAR cheque o que tem que checar, para que nós entreguemos a nossa parte.
As imagens digitais também podem ser usadas para o treinamento dos assistentes.
– Todos recebem os dados de impedimentos que produzimos e podem analisar as próprias decisões, suas posições em campo. Podemos produzir uma imagem digital do ponto de vista dos assistentes.
A CBF pretende ter impedimento semiautomático funcionando no começo do Brasileiro, em janeiro, o que pode representar um desafio à Genius. Lennard estima que é preciso cerca de quatro meses para instalar os equipamentos, realizar treinamentos e testes para o início da operação. Na Inglaterra, ele entrou em ação em abril, na 32ª rodada da temporada 2024-2025 da Premier League.
O executivo afirma que é possível preparar a estrutura necessária para o sistema em qualquer estádio.
– Precisamos cerca de dois dias para instalar os equipamentos nos estádios. Não há um local em que a gente não tenha conseguido instalar. Às vezes é preciso ser criativo. Há um estádio na Bélgica que estavam reformando uma das arquibancadas e tivemos que colocar as câmeras em postes, mas isso não afetou a qualidade – disse Lennard, que não quis dar detalhes sobre a negociação com a CBF. (Com ge - SP)