A Caixa Econômica Federal quer entrar de cabeça no novo formato de concessão do crédito consignado para trabalhadores do setor privado.
O presidente do banco, Carlos Vieira, afirma que a base de clientes da instituição na modalidade não chega a 100 mil, em um universo de 3,8 milhões de pessoas com contratos ativos na linha de crédito.
A modalidade lançada anteontem estará disponível a partir do dia 21 para todos os trabalhadores formais, um total de 47 milhões de pessoas, por meio da Carteira de Trabalho Digital.
Com a livre concorrência entre os bancos no novo modelo e o acesso mais amplo à população, Vieira afirma ter certeza de que, com juro menor, a base de clientes deve crescer de quatro a cinco vezes em um ano. A expectativa é que a taxa cobrada pelo banco caia à metade, de um intervalo de 6% a 8% por mês para 2% a 3%.
No mercado imobiliário, em que a Caixa é líder com fatia de quase 70%, o financiamento com recursos da poupança deve somar R$ 64 bilhões, abaixo do patamar de 2024, que foi de R$ 73 bilhões. Ainda assim, Vieira diz que não há escassez de recursos para o crédito.
O presidente da Caixa antecipou ao GLOBO que, em uma semana, o banco liberou R$ 4,5 bilhões para quem tem direito ao resgate do saldo do saque-aniversário do FGTS.
Como a Caixa vai atuar no novo consignado privado, lançado nesta semana?
Já fizemos os cálculos: a taxa que está hoje, em média, entre 6% e 8% ao mês na Caixa deve ficar em torno de 2% a 3% ao mês. Essa é a expectativa. A Caixa quer ser um dos maiores protagonistas desse mercado, que hoje não é muito grande para o banco.
Temos uma possibilidade muito grande de avançar nesse mecanismo de crédito. Nós temos hoje na Caixa uma base que não chega a 100 mil no consignado privado. No mínimo, multiplicamos essa base em um ano por quatro ou cinco vezes.
O presidente Lula pediu para os bancos públicos serem indutores no processo?
Esse projeto por si só é enorme, tem dinâmica muito assertiva. Lula deseja enquanto política pública, e a Caixa faz porque está alinhada com esse entendimento e é vocação do banco. Existe um alinhamento de percepções nesse sentido. A Caixa tem cerca de R$ 1,3 trilhão em crédito. Temos outras linhas que estão começando a ganhar musculatura.
Quais linhas?
O microcrédito, no qual a Caixa não atuava, passou a atuar. Temos hoje só de fundos públicos, fora o recurso próprio, R$ 2,5 bilhões para fazer microcrédito, podendo chegar a 210 mil brasileiros. Vemos uma grande oportunidade de estimular o setor produtivo e, principalmente, a agricultura familiar. O crédito médio tem sido de R$ 12 mil.
Queremos ajudar a estruturar o arranjo do negócio, para que a distribuição da produção seja feita de forma adequada pelo próprio produtor, evitando o papel do atravessador.
No carro-chefe da casa, o crédito imobiliário, a Caixa precisou tomar medidas para segurar a demanda. Está mais difícil o acesso à casa própria?
Há um fenômeno interessante: o apetite de crédito imobiliário independe da taxa de juros. Tivemos um aumento da taxa de juros e saímos de uma concessão de R$ 180 bilhões em 2023 para cerca de R$ 224 bilhões em 2024. Não achamos que, no curto prazo, tenhamos um problema de falta de crédito a ser concedido.
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No ano passado, a demanda pelo crédito via SBPE (que usa recursos da poupança) avançou tanto que terminou em outubro o que achávamos que acabaria em dezembro. Tivemos que criar alguns mecanismos para continuar concedendo crédito. No SBPE, nosso guidence (projeção) é de R$ 64 bilhões neste ano.
Há a possibilidade de novas medidas para segurar a concessão de crédito imobiliário este ano, como ocorreu no fim de 2024, quando o banco reduziu a cota de financiamento, entre outras ações?
Não, não estamos pensando nisso agora. Talvez possamos pensar mais para o fim do ano. Estamos confiantes em uma série de medidas que estamos adotando. Por exemplo, estamos trazendo mecanismos de mercado de capitais.
Então, quais serão as novidades no crédito imobiliário este ano?
Estamos criando mecanismo para usar cada vez menos papel no crédito imobiliário. Vai ser feito totalmente no mobile, inclusive escrituração e registro em cartório não precisarão mais de o cliente ou a Caixa ir no cartório para registrar. Vai ser feito digitalmente. No fim do ano, vamos ter toda a rede com esse mecanismo de concessão de crédito.
Outro projeto que está sendo tocado é da Fundação Caixa, que deve ser enviada ao Congresso. Como vai funcionar?
A Caixa é o único grande banco do país que não tem fundação para exercer atividades socioambientais complementares ao seu negócio. A fundação será criada para a atuação exclusiva no terceiro setor e sem fins lucrativos.
O presidente do PP, Ciro Nogueira, tem manifestado a intenção de o partido sair do governo. Como o senhor foi indicado em parte por integrantes da legenda, sairia do banco em caso de desembarque?
A minha nomeação é do presidente da República. A minha “desnomeação” é do presidente da República. Sempre procurei ter comportamento técnico na minha gestão.
Neste período que estou na Caixa, tem a criação de empresa de cartões, empresa de loterias, resolvemos parte do equacionamento do Funcef (fundo de pensão dos funcionários), implantamos a biometria, uma Fundação, pagamos uma das melhores PLRs (participação nos resultados) do mercado. Então estou tranquilo. (Com O Globo)