O 1º site político de Mato Grosso do Sul   |   19 de Abril de 2024

Campeões do Botafogo em 93 confiam no bi da Sul-Americana

Marcelo Carioca e André Silva lembram histórias e "perrengues" da conquista, veem semelhança com momento atual

20/09/2018 - 09h58

Globo Esporte

Campeões do Botafogo em 93 confiam no bi da Sul-Americana (Foto: Divulgação )

Após eliminar o Audax Italiano, do Chile, e o Nacional do Paraguai, o Botafogo tem um brasileiro pela frente nas oitavas de final da Copa Sul-Americana: nesta quinta-feira, às 21h45 (de Brasília), faz o jogo de ida contra o Bahia na Fonte Nova. Nas redes sociais, o clube lançou a campanha que virou até mosaico no Nilton Santos: "Queremos o bi", em alusão ao título da Copa Conmebol de 1993.


E os protagonistas daquela conquista, que completa 25 anos em 2018 e virou livro, têm motivos para acreditar no bi. O ex-atacante Marcelo Carioca e o ex-zagueiro André Silva receberam a reportagem do GloboEsporte.com na sala de troféus de General Severiano, tiraram fotos com a réplica da taça (a original sumiu há muitos anos), mandaram uma mensagem de apoio para o time atual (veja no vídeo acima) e explicaram porque confiam que a história vai se repetir.


Em 40 minutos de entrevista, ao lado de Bernardo Braga, autor do livro "1993 A estrela solitária brilha na América", eles relembraram histórias e "perrengues" da campanha; enxergaram semelhanças daquele time, desacreditado e sem nomes de peso, com a equipe de Zé Ricardo; e usam a própria superação como forma de inspirar Igor Rabello, Lindoso, Leo Valencia, Pimpão e companhia.


GloboEsporte.com: Quais os principais momentos que marcaram vocês naquela conquista?

Marcelo: A gente está fazendo 25 anos dessa conquista. Começou com um time caríssimo desmontado, e a gente desbancou o time que havia sido campeão brasileiro. Nós com jogadores da casa, o Flamengo veio com time completo, achando que ia golear, e a gente conseguiu ganhar deles por 1 a 0. Lavou a alma do torcedor do Botafogo, que esperava o título de 92. E a gente conseguiu vencer aquela equipe que foi campeã brasileira. Tudo começou ali.


André: Éramos jovens que precisavam dar uma resposta imediata para o clube. Imagina a dificuldade. Hoje você vê os jovens no futebol têm uma maturação. Não tivemos esse tempo. Acho que o momento crucial desse título foi a virada diante do Atlético-MG. Levamos três gols lá (Mineirão) muito rápido (3 a 1), mas em nenhum momento pensamos em desistir. Não foi algo que absorvemos de pronto, claro, mas ninguém reclamou, chorou ou duvidou. Momentos antes do jogo de volta nos reunimos, incentivamos e fizemos os três gols (3 a 0). A partir dali, tinha certeza que o título seria do Botafogo. Estávamos preparados para a guerra, e na final saí com a camisa totalmente rasgada.


Bernardo: Uma das reportagens da época dizia: "Botafogo, vergonha na cara e taça na mão". E com uma imagem do André com a camisa rasgada na frente, e ele levantando a medalha. Isso emocionou muito os botafoguenses porque simbolizou não só a raça do time, mas toda a dificuldade. Um jogo muito violento por parte do Peñarol, o jogador indo cobrar o último pênalti com a camisa rasgada... E a camisa está guarda.


André: Está guardada com bastante carinho. Eu até pensei em fazer um quadro com ela, mas está guardadinha lá.


Fale um pouco mais dessas dificuldades que vocês enfrentaram.

André: A ideia que vinha à cabeça era greve, não participar de nada, só para você ter noção. A situação estava muito ruim. Tudo atrasado, vencido, uma dificuldade enorme da diretoria. O Antônio Rodrigues (vice de futebol), o Mauro Ney (presidente), eles estavam fechados com a gente. Havia uma promessa de que as coisas iriam melhorar, nós acreditávamos, e naquele momento vimos que parar não seria ideal. Se não me engano, foram quatro meses de salário atrasado. A gente foi campeão com salário atrasado.

Marcelo: Ficamos jogos sem concentrar porque o clube não tinha condições de arcar.


André: Não tínhamos bola.


Marcelo: Isso marca mais ainda, é para o torcedor hoje entender o que é esse título. Se você pegar um grupo hoje e o cara reclamar... Pelo amor de Deus. Se jogasse com a gente lá, iria trabalhar em banco, qualquer outra coisa, menos jogar de futebol.


Bernardo: Uma curiosidade é que a premiação dos jogadores na Conmebol iria ser em cima da renda do jogo final contra o Peñarol no Maracanã. E uns 10 dias antes, o Romário fez os dois gols que eliminaram o Uruguai da Copa de 94, então havia uma rivalidade na imprensa e muito se dizia que era a revanche. Então o jogo tinha atrativo e esperava-se um grande público. O que acontece? Uma grande confusão em volta do Maracanã e aos sete minutos do primeiro tempo a polícia militar solicita que se abram os portões.

Bernardo: E a premiação dos jogadores, que seria calculada em cima da renda, foi para o espaço. Porque 26.726 pessoas pagaram ingresso, e na época a mídia estipulou em 70 mil alvinegros no Maracanã. Até tinha uma declaração engraçada do Marcelo no dia seguinte na imprensa: "Olha, a gente vai tentar negociar alguma coisa com a diretoria".


Marcelo: E estamos até hoje sem receber a premiação (risos).


Qual foi o peso do Carlos Alberto Torres nesse título?

Marcelo: Lembro que quando o Carlos Alberto assumiu o Botafogo, ele levou a gente para fazer a pré-temporada no Caribe. A maioria dos jogadores criada aqui dentro de General, o mais longe que tinha ido era no Maracanã (risos). E lá, na ilha onde a gente estava, estavam também os jogadores da seleção da França. E eles fizeram um jogo-treino contra a gente. Rapaz, os caras todos de seleção, forte para caramba. No primeiro tempo 2 a 0 para eles. Entramos no vestiário, aí o Capita, com aquele jeito dele: "Vocês estão de brincadeira comigo? Vão perder para um time ruim desses?" (risos). Nós voltamos e viramos para 3 a 2.


Marcelo: O Capita veio para dar uma motivação. Você trabalhar com um sujeito daquele, um nome daquele, nossa moral foi lá em cima. A gente corria para ele. Ganhamos esse título em 93 porque corremos por ele. O que ele fez por nós, com todas as dificuldades que passamos, com salários atrasados, até de alimentação. A gente conseguiu o título, e se você perguntar como, foi coração mesmo, garra. Uma equipe desacreditada, com jogadores feitos em casa, nenhum de nome, e você conquistar o maior título internacional do clube, isso não tem preço.

Leia Também
Comente esta notícia
0 comentários
Mais em Esporte
Colunistas
Ampla Visão
Copyright © 2004 - 2015
Todos os direitos reservados
Conjuntura Online