Há uma dor, dissabor, desamor, um estado de torpor, ideologia do recusar...
Há uma obrigação de ter que ter que dar, uma falta de vergonha de negar, um vício em discordar, um estado agonizante a nos feminizar
Há oportunismos dilacerantes a enfiar, por entre as pernas, pela goela, pela vida, pelo dia, pela certeza de que um dia, o dia, num dia, vai acabar...
Há uma gente esguia que desdenha de todos, de quem sofre e de quem sofria, há quem, sorridente, de barriga vazia, finge que sacia
Há um peito que secou, um leite que azedou, um frágil humano que chorou
Há uma recomendação, um medo da ação, lamentação, carência que é feito freio de mão
Há uma alcatéia na estrada, uma Assembléia ocupada, uma gente enganada
Há uma reivindicação, uma ação, um estado de coisas do estado estacionado na contra mão
Há sindicatos, há fatos, há servidores, há atores, as mesmas dores, os mesmos dissabores e o povo refém dos mesmos detentores
Há desistência, falência, indecência e a gente sem nada na dispensa
Há uma gente sonsa com muito na conta e a gente já perdeu a conta, vivendo de faz de conta
Há pouca assistência, o risco da previdência, a sacanagem na presidência e a gente na resistência
Há uma rejeição da proposta governamental, um caso a ser resolvido no nosso quintal
Há um projeto, pouco teto, um céu escuro, um tempo duro, servidores em apuro
Há um percentual que não contempla, uma política desatenta, uma vida em câmera lenta
Há um tempo sombrio, a dignidade se esvaindo, feito lágrimas, minguando no curso de um rio, um povo lutando pelo seu brio
Há um cheiro no saguão, a segurança de plantão, o olhar do poeta, a dor que turva o teclado, a rima que não dá conta de traduzir, um caminho longo a seguir, há quem se afeta por todos que lutam pelos direitos, sem direitos, no protesto pessoal, virtual, ou por uma fresta, da gente que quer legitimar o que é nosso e nos completa.