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Convexos

19/08/2017 - 15h06

Raquel Anderson 

Ecos emudecidos
Vestidos carcomidos
Ser humano
O que é isso?
Patos a nadar, lentamente, em fileiras, na lagoa de líquido lixiviado da Paulista, do país
Recônditos homens pensantes
Instantes intermináveis de covardia
Descortinem-se, enlouqueçam, em demasia
Filosofia, há súplicas, legados, tratados...
Historiografia, metodologias...
Injustiças em supremacia
Ignorados, esquecidos párias da pátria, sangrem, jorrem, permaneçam famintos, o mundo quer vê-los assim
Vagabundos, indigentes, aquietem-se, agonizem, há jatos de água fria no lombo da tua pobreza!
Fétidos seres atrapalhantes
Sofrimentos uivantes
Ainda há jantares de gala
Um outro lado, uma limpeza escolhida, boa comida
Ternos bem cortados, cabelos arrumados
Há deboche pela tua pobreza, vagabundo
Há repulsa da tua espécie, tua aparência "não desce"
Muralhas, cercas elétricas e vidros fechados
Redimidas posturas do por vir
O final do ano, já está aí, a permitir
Entupiremos a fome que te consome
Com cestas básicas e com os restos
No lixo, do lixo, procuras alimentos e amplexos
Nada temos a ver com a tua miséria, vagabundo
Empesteias o mundo
E permanece nele, escancara, esfrega na cara
Não tem título de eleitor?
Carrega a tua vingança neste cobertor
No cheiro visceral de ser gente
No incomodo que fazes
Nas fezes que descarrega
Na vida que a vida te emprega
Na condição inatingível dos bem nascidos que te desemprega
Chegada a noite, reestenda o teu cobertor
Durma enquanto a água ou o fogo não vem
Sonhe, no teu submundo, que o mundo não lhe trata com desdém
Não ame, não sinta, não queira bem
És o ninguém, apenas o ninguém 
Sonhe, teu sono, pesado, pela única possibilidade que lhe resta
Na festa da vida, a tua vida é esquecida!
*Raquel Anderson

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